Ana Paula era uma mulher atraente, já havia passado dos 40 anos de idade e sua vida profissional e social era do jeito que planejava. Ana Paula era uma mulher cheia de planos e planilhas. Sabia exatamente onde estaria em 5 anos. Ana Paula era casada com Pedro há 15 anos, o começo do relacionamento dos dois foi um verdadeiro furacão. Pedro era um cara de espírito livre, ninguém imaginaria que ele se casaria um dia. Conheceu Ana Paula através de amigos em comum, se apaixonaram, viajavam muito, Ana Paula curtia tudo que era proposto, desde acampar até hotel 5 estrelas. Saíam quase todo final de semana que não estavam viajando. Tinham o relacionamento perfeito, era tudo equilibrado. Ele podia sair com seus amigos para uma pelada ou um bate papo qualquer dia na semana. Ela podia sair com as amigas e tinha seu tempo só para ela também.
Todos os livros de romance, que Ana Paula lia, acabavam no dia do casamento. Era mais ou menos assim: "se casaram e foram felizes para sempre". Ana Paula também achava que ao se casar seria feliz para sempre, mas não sabia que teria dias que se sentiria irritada, aborrecida, com ciúme, com raiva, com vontade de voltar para casa dos seus pais, com vontade de mandar Pedro embora, vontade de sumir. O "felizes para sempre" não existia.
Pedro e Ana já se casaram depois dos 30 anos de idade. A vida profissional já resolvida, tinham curtido tudo, não poderia dar errado. Casaram-se numa cerimônia linda, cercados de amigos e familiares. Trocaram juras de amor eterno. Na lua de mel foram para Paris, não poderia ter sido mais romântico. Pedro cedia quando Ana Paula não gostava de uma programação. Ana Paula fazia coisas que Pedro gostaria de fazer. Era um balé. Assim como os primeiros meses em casa como um casal.
A rotina foi dominando o casamento. Os pequenos gestos que faziam toda diferença no começo do relacionamento já eram escassos. Ana Paula tinha certeza que após 5 anos de casada não estava mais feliz e Pedro também não. Tinha mais prazer em estar no trabalho do que em casa com ele. Evitava a todo custo chegar cedo, era sempre alguma emergência que aparecia no trabalho, aceitava os plantões no fim de semana, e quando a noite chegava demorava para ir pra cama, esperando que ao chegar ele já estivesse dormindo, algumas vezes tinha "sorte", outras inventava uma desculpa para que não tivessem nenhum contato íntimo. Nesse contexto Ana Paula resolveu procurar terapia.
-Pedro, acho que temos que fazer uma terapia de casal- disse angustiada- não vê que nós dois nem nos encostamos mais, não conversamos, e quando nos falamos é sobre conta ou problema ou acabamos brigando? Eu não estou feliz.
- Ué, Ana, e você acha que estou? Mas terapia de casal não adianta. Você arruma tempo para ir na terapia mas não arruma tempo para mim. Sabe qual foi a última vez que saímos nós dois juntos? - Pedro dá um tempo para Ana Paula pensar na resposta mas responde ele mesmo- não lembra, né? Nem eu. Terapia não adianta de nada, eu não vou, se você quiser arruma um horário no seu mega agendão..
- Tá vendo? Mais uma vez a gente tenta conversar e você começa de grosseria, Pedro. Não dá mais, se você não quer mais cai fora, não fica me enrolando, não.
- Ana, é sério isso? Eu estou te enrolando? Quando você foi deitar na mesma hora que eu? Para mim, já deu.
Pedro deixa Ana Paula em casa, bate a porta e dirige sem rumo, até tarde da noite, até que ela já esteja dormindo quando ele chegasse. Ele não aguentava mais viver com a indiferença dela, ele já nem mais fazia questão de estar com ela também. Não tinha outra mulher e sabia que ela não tinha outro homem, pelo menos era o que ele acreditava, mas achava que os dois já não viviam mais os mesmos sonhos, os mesmos planos. Era melhor acabar por ali ...
Ana Paula ficou em casa chorando, pensando como eles dois chegaram aquele ponto. Lembrou do primeiro beijo, de como eles haviam se apaixonado, de quantas vezes eles trocavam mensagens por dia, de como ela ficava louca de saudade até encontrá-lo de novo. Do dia que ele cantou uma serenada para ela, cantou tão mal que ela não sabia se ria ou chorava de emoção. A música que ele cantou virou tema do relacionamento. Todo casal que se preze tem sua música e a deles era amor puro do Djavan. A letra da música já não faziam mais sentido hoje em dia, antes ela ouvia e se identificava totalmente.
"O que há dentro do meu coração Eu tenho guardado pra te dar E todas as horas que o tempo Tem pra me conceder São tuas até morrer
E a tua história, eu não sei Mas me diga só o que for bom Um amor tão puro que ainda nem sabe A força que tem É teu e de mais ninguém
Te adoro em tudo, tudo, tudo Quero mais que tudo, tudo, tudo Te amar sem limites Viver uma grande história
Te adoro em tudo, tudo, tudo Quero mais que tudo, tudo, tudo Te amar sem limites Viver uma grande história
Aqui ou noutro lugar Que pode ser feio ou bonito Se nós estivermos juntos Haverá um céu azul"
Ana Paula resolveu que era hora de mandar uma mensagem para a psicóloga que uma amiga do trabalho havia indicado. Segundo sua amiga ela podia contar sempre com sua psicóloga nos momentos diversos.
Ana Paula: Dra Patrícia, sou amiga da Cláudia, sua paciente, ela me passou seu contato. Preciso te ver urgente. Meu nome é Ana Paula.
Não demorou muito e Patrícia respondeu sua mensagem.
Patrícia: Oi, Ana Paula, obrigada pelo contato. Claro que posso te ver urgente. Posso te ligar para conversarmos melhor e ajustarmos o horário?
コメント