
A consulta foi um turbilhão de emoções. Uma avalanche de memórias e uma série de reconhecimentos que Cláudia não esperava fazer. Depois de explicar à Patricia que João havia sido seu grande amor e que depois dele ela se dedicou totalmente à construção de sua carreira, conseguiu finalmente abrir a mensagem que João havia enviado.
João: Cláudia, quero repetir o café, ainda bem que me convidou. Quero te falar tudo que vivi enquanto estive fora e quero te pedir desculpa pessoalmente. Hoje às 20:00? Você ainda mora no mesmo prédio?
Como lidar com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo? A promoção que não tinha saído, a volta do João...bem, pensando bem não são tantas coisas assim. Mas são as coisas que mais impactam a vida da Cláudia agora. Quando Cláudia conheceu João imaginava um futuro muito diferente, pouco pensava em sua carreira, sabia que trabalharia, mas João era sua prioridade. Ela havia desistido de alguns programas de trainees fora da sua cidade porque não queria ficar longe dele, mas nunca contou isso a ninguém, sabia que seria julgada. Hoje em dia nenhuma mulher deve abrir mão do seu trabalho por um homem, foi o que sempre ouviu, mas seu coração gritava que João era seu parceiro de vida e que ela apoiaria ele para que crescesse, depois ela cuidaria da carreira e dos sonhos dela. Num casal começando uma família não há espaço para dois bem sucedidos, foi assim que ela pensou. Toda sua dedicação a João e abdicação de seus sonhos seriam recompensados. Ela achou que João vendo todo seu empenho se apaixonaria mais e mais, na verdade quando João recebeu uma proposta para fora da cidade Cláudia nem pensou duas vezes, torceu por ele e disse que ele seguisse porque ela o apoiava em tudo e iria com ele. Mas ele tinha outros planos e neles Cláudia não estava incluída. Simplesmente disse que iria sozinho e que ela deveria investir nela e na carreira dela e que não deveria ser a sombra de nenhum homem porque ela era brilhante. Sim, era um elogio. Não, não era o que Cláudia queria ouvir. Nem sempre elogios agradam.
-Cláudia, então você está me dizendo que quando ele foi embora você de fato se voltou totalmente e investiu 100% na sua carreira?
-Era só isso que me restava, né? - Cláudia abaixa os olhos - E chorar. Trabalhei e chorei por muito tempo, depois só trabalhei. Virei uma máquina.
- Uma máquina?
- Sim, não me sentia cansada, não sentia sono, dor, nada. Estava a postos qualquer dia, qualquer hora. Eu queria ser reconhecida como a melhor, e fui.
-Uma máquina de fato não sente nada mesmo. Mas você não é uma máquina. Nunca foi e nem será. Para que serve não sentir nada?
-Pra ser a melhor, para ser reconhecida, promovida...se bem que...
- Se bem que?
- Não adiantou nada, né? Nem promovida eu fui
-Não adiantou nada me parece bem extremo não? Você não foi promovida agora, mas de qualquer maneira volto a pergunta quando você não sente, para que serve isso?
-Para não lembrar de tudo que passei, foi uma porrada muito grande- Cláudia se emociona e volta a chorar - você acha que devo vê-lo?
- Você quer vê-lo novamente?
- Não sei. Mas acho que tenho que responder, né? Vai que ele aparece lá embaixo as 20:00? ele ainda sabe onde eu moro. Ele foi o amor da minha vida, Patrícia, o amor da minha vida.
Patrícia entrega o lenço de papel para Cláudia.
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