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Enfim as lágrimas, que se sequem já!

Foto do escritor: Patricia CarneiroPatricia Carneiro

Cláudia ficou contando os dias para encontrar Patrícia de novo. Estava angustiada, ansiosa, desanimada, eufórica, confusa? Sim, definitivamente confusa. Não estava acostumada a nomear seus sentimentos, nunca deu muito atenção ao que sentia, entender então o que estava acontecendo estava sendo impossível.

O dia que encontrou com João bagunçou tudo, ela subiu e trabalhou muito mal, acabou saindo mais cedo, antes mesmo de Teresa, isso nunca havia acontecido antes. Mas Cláudia sentiu um mal estar o dia todo, aquele desculpa no fim do papo, e aquele beijo no rosto a deixaram mais inquieta. Percebeu que não havia comido e que a última coisa que seu estomago encontrou foi o café depois da sessão de terapia. Abriu um vinho, porque era assim que ela sabia resolver essas esquisitices. Tomou um analgésico junto para passar logo a dor de cabeça e pediu uma pizza, porque depois daquele dia ela merecia isso. Acabou bebendo a garrafa toda, e tocando toda a playlist da Cassia Eller no repeat sem parar, e chorando, e comeu a pizza e ainda enviou uma mensagem que não deveria, mas que só se deu conta no dia seguinte, quando de ressaca acordou tarde para trabalhar. Quem era ela? O que estava acontecendo? No que ela estava se transformando? Um dia sai cedo e no dia seguinte se atrasa? Assim nunca se tornará sócia. Lavou o rosto, escovou os dentes: "odeio bafo de vinho no café da manhã" pensou. Tomou mais um analgésico para tentar melhorar sua enxaqueca, fez um café e pegou seu celular.


Cláudia: Oi, João. Adorei nosso café ;) Vc quer repetir? Sem "desculpa", hein? kkkk


Cláudia achou que uma veia iria explodir na cabeça dela, não é possível que ela tenha mandado aquela mensagem para o João ontem, bêbada, com olhinho piscando e com kkkk no final??? Se ela morasse numa casa com certeza cavaria um buraco no quinta e enfiaria cabeça. Que vergonha. "que patética, que fútil, que desesperada!" pensou Cláudia. Tomou um banho, se vestiu e correu para a empresa o mais rápido possível. Trabalhar o dia inteiro com aquela ressaca de 15 bêbados e vergonha do tamanho da galáxia seria missão quase impossível. Chegou na empresa para ser recepcionada pela presidente.

-Cláudia, tudo bem?

-Sim, tive um contratempo, mas não se preocupe, o trabalho está todo em dia e hoje ficarei até a hora que você quiser.

-Cláudia, a minha pergunta foi simples, quis saber se você está bem, não se o trabalho está atrasado. Como vi que ontem você não saiu para comer o dia todo e ainda foi embora mais cedo que seu usual e hoje chegou mais tarde, queria saber se você está precisando de algo.

(estou precisando de um passaporte falso e uma cirurgia plastica que mude meu rosto, uma nova identidade e que você me dê logo o cargo de sócia) pensou Cláudia.

- Não, estou com dor de cabeça, só isso.


Pronto, agora todos sabiam que ela era incompetente e se atrasava. Mas hoje ela iria ver a Patrícia e iria mandar a Patrícia apagar as memórias dela, psicólogos servem para isso, né?


-Cláudia, trouxe um cappuccino e um croissant para você. Vi que você não estava se sentindo bem ontem, e como não te encontrei aqui quando cheguei hoje imaginei que não tivesse melhorado.- Teresa oferece seu melhor sorriso.

-Obrigada, não foi nada, hoje vou ficar até amanhã. - Cláudia sorri

- Tudo bem, se precisar de mim, me avise.

-ok. - Cláudia não estava ali para fazer amigos. Teresa para comprar esse cappuccino e esse croissant teve que parar de trabalhar, ela ama ficar dando essas voltinhas por aí. Ela não quis ajudar em nada, quis é ficar voando.


A consulta com a Patrícia seria as 19:00, e Cláudia olhava o relógio sem parar. Ela viu que João respondeu sua mensagem mas está sem coragem de olhar. Desde quando tinha virado frouxa? Ela é a mulher que é porque ela é firme, ela não tem medo, enfrenta tudo...menos o passado, menos o coração partido. Lembrou de quando ela e João se separaram, além da Cassia Eller ela escutava Ana Carolina sem parar quando ele foi embora e a música vai ela chorava e cantava e tomava sorvete e enxugava as lágrimas e chorava mais um pouco.


Depois disso decidiu que odiava Cassia Eller e Ana Carolina e mais alguns outros. Odiava os lugares que viajavam juntos, odiava os planos que fizeram, odiava tudo que pudesse lembrar o João, a vida seria outra.


Enfim chegou na porta do consultório da Patrícia. Patrícia como sempre abriu a porta com um sorriso e disse: estou muito feliz em te ver novamente, Cláudia, vamos entrar?

Cláudia entra, senta e chora, e chora e chora.

Patrícia oferece um lenço, Cláudia agradece.

E elas ficam assim, em silêncio. Num silêncio de aconchego, Patrícia fazendo Cláudia se sentir acolhida e Cláudia podendo enfim chorar.

Depois de um tempo Cláudia diz: - O João voltou.

- Sim, entendo. Me fale um pouco sobre o João. Eu não o conheço.

-Mas eu não vim aqui para falar dele, eu vim aqui porque quero ser sócia na empresa, ele não é importante. - Cláudia enxuga as lágrimas e senta ereta.

- Verdade, você me disse isso no primeiro e único dia que nos vimos. Mas você poderia me dizer o que te fez querer adiantar a sessão?

-Foi por causa do João, mas ele não é importante.

- Entendo que você me diga que ele não é importante, mas você gostaria de falar sobre ele mesmo assim? Talvez um pouco, já que você falou duas vezes nele aqui e me pediu para adiantar a sessão.

- Não sei. Eu mandei uma mensagem para ele, mas eu estava bêbada. E ele respondeu, mas eu não tenho coragem de ler. Você leria para mim?

- Posso ler, Cláudia, claro. Mas eu estou um pouco confusa, se ele não é importante por que uma mensagem dele te causa medo?

-Eu não disse que estou com medo.

-Você disse que não tem coragem, né?

- Isso, que é o oposto de medo.

...

- É verdade estou com medo, então vou te explicar quem é o João e depois podemos ler a mensagem juntas e você apaga minhas memórias no final?

-Bem, Cláudia, não funciona assim, posso te ajudar a aprender a lidar com essas memórias, esses pensamentos e esses sentimentos. Mas não tenho o poder de apagá-los de você. Você preferia não sentir nada? Ou preferia não lembrar de nada?

- Não, tem memórias que quero levar pra sempre mas sabe o dia que o João terminou comigo eu só chorei, ele me disse que eu deveria seguir meu caminho sozinha...








"Espera aí! Nem vem com essa história Eu nem quero ouvir Não dá pra te esquecer agora Como assim? 'Cê disse que me amava tanto ontem Eu juro que ouvi

Calma aí! Que diabo você tá dizendo agora? Que onda é essa de outro lance pra viver? Você nem pode tá falando sério Vivi pra você Morri pra você

Pois então vai! A porta esteve aberta o tempo todo Sai! Quem tá lhe segurando? Você sabe voar

Pois então vai! A porta na verdade nem existe Sai! O que está esperando? Você sabe voar

Então tá bom! É, senta e conta logo tudo devagar Não minta, não me faça, suportar Você caindo nesse abismo enorme Tão fora de mim

Tá legal! É, e eu faço o quê com a nossa vida genial? 'Cê vai viver pra outra vida e eu fico aqui Na vida que ficou em minha vida Tão perto de mim Tão longe de mim

(Pois então) vai! A porta esteve aberta o tempo todo Sai! Quem tá lhe segurando? Você sabe voar

(Pois então) vai! A porta na verdade nem existe Sai! O que está esperando? Você sabe voar Uhuu, de volta pra mim De volta pra mim"







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