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Eu estou me sentindo bem, e você?

Foto do escritor: Patricia CarneiroPatricia Carneiro

João chegou na hora marcada na portaria do prédio da Cláudia. O porteiro pediu que ele aguardasse lá embaixo. Enquanto esperava por Cláudia pensou em tudo que queria falar. Ele tentou se vestir da maneira que ela costumava gostar, jeans escuro e camiseta gola v da cor branca, Cláudia dizia que ele parecia James Dean. Tudo que ele queria era que ela lembrasse das coisas boas e não de como tudo terminou, como ele a abandonou, deixando os sonhos e planos para trás. Não houve um só dia que João não se questionou da sua decisão. O trabalho que tinha ido fazer foi ótimo, era um grande passo na sua carreira e disso ele não se arrependia, o que ele questionava era se poderia ter feito tudo de outra forma. Ter interrompido a relação de outra maneira, ter levado Cláudia com ele, ter estado pronto para uma relação e não ter simplesmente mandado ela procurar um emprego e ter a própria vida.

Cláudia desceu um pouco atrasada, parecia estar cansada, apesar da maquiagem e da roupa linda aparentava exaustão.

-Oi, João, desculpe a demora.

-Tudo bem. Não esperei muito, poderia ter subido se você quisesse, mas o porteiro disse que eu esperasse aqui embaixo.

-Sim, eu não gosto que muitas pessoas entrem na minha casa, sou muito seletiva com isso. Obrigada por me esperar, aonde vamos?

João se sentiu incomodado com a resposta de Cláudia, ela era seletiva com ele? Ele já tinha ido várias vezes ao apartamento dela, havia dormido com ela, praticamente moraram juntos e hoje ela é seletiva? Estavam apenas se reencontrando, ele preferiu deixar esse assunto para depois.

-Vamos àquele restaurante que amávamos? L'amour?

- Preferia um lugar mais neutro, com poucas ou nenhuma lembrança. Podemos ir numa cafeteria que abriu aqui perto enquanto você morava fora? - Cláudia estava disposta a não revisitar o passado.

-O que você quiser.- João novamente ficou incomodado, estava se sentindo como se estivesse sendo um fardo para ela.

Andaram até a cafeteria, era bonita, moderna, tons de cinza e burgundy, madeira e aço nas paredes e nos móveis, nada romântica e João nunca havia estado ali. Era um território neutro, o que Cláudia precisava e João evitava. Foram até o caixa que sorriu e perguntou o que desejariam.

-Eu quero dois cappuccinos- João prontamente pediu.

-Não, João, eu quero um espresso e um croissant.

-Eu quero um cappuccino e ela vai querer um espresso e um croissant- João consertou o pedido.

-Desculpa, Cláudia, você sempre gostou de cappuccino- João puxou a cadeira para Cláudia sentar.

-Tudo bem, João. Tem muito tempo que não nos vemos, as coisas mudaram, eu mudei muito, aposto que você também. O que eu gostava era mais ou menos o que você esperava que eu gostasse, eu não sabia quem eu era. Mas estou curiosa, o que você quer falar comigo.

-Cláudia, eu quero me desculpar. A nossa história não poderia ter acabado daquela maneira, eu fui egoísta e só pensei no que eu queria naquele momento, mas eu não sabia que eu queria aquela oportunidade mas queria você ao meu lado. Eu não fui justo com nós dois.

Cláudia abaixa a cabeça e João se aproxima dela, segura sua mão.

-Eu errei, e hoje é muito difícil viver com esse peso, com sua ausência, com sua vida independente da minha. Eu não sei mais nada de você. O que houve depois que nos separamos?

-Você quer uma atualização da minha vida? O que eu fiz dela depois que você me largou? - Cláudia já aumentava o tom de voz - Eu fui atrás da sua ordem, você me mandou focar na carreira, eu foquei, e cresci, e hoje sou respeitada e sei que ali me dão valor, que ali eles me querem e não vão me abandonar. -Cláudia quase não respirava- mas antes de achar meu espaço eu chorei, chorei e tive que te matar dentro de mim, se você ficasse vivo eu iria estar sempre te esperando. Aceito teu perdão, João, tudo bem, o que você fez me ensinou muito.

-Cláudia, eu não vou mentir, eu me arrependi, e não consigo parar de pensar em você. Podemos tentar de novo, prometo que serei um namorado melhor, podemos tentar tudo diferente, você será minha prioridade, nunca mais minha carreira virá em primeiro lugar.- João começou se emocionar, os olhos encheram de lágrimas- Desculpa Cláudia, vamos tentar, eu não vivo sem você.

-Vive, João, viveu até agora e continuará vivendo. Sinto muito, mas a minha resposta é não. Eu estou me colocando em primeiro lugar. Não vem a minha carreira e nem você. Eu sou a pessoa mais importante do mundo para mim. Obrigada João, por todo amor que me deu, por toda dor que me causou e pelo pedido de desculpas. Podemos seguir sendo amigos se conseguirmos, mas não posso dar meu coração de novo a você.

Cláudia se levantou, estendeu a mão e se despediu de João.


Quando chegou em casa Cláudia percebeu que suas necessidades estavam a frente de qualquer coisa, sabia que a partir de agora estaria pronta para assumir seu cargo como sócia na empresa e sabia que nunca mais seria a mesma. Amar a si mesma, conhecer o que deseja e se colocar em primeiro lugar era um caminho sem volta. Cláudia continuou na terapia com Patrícia e cada dia mais se descobria, aprendia sobre ela. Assumiu a posição de sócia de uma das maiores empresas do Brasil. Conheceu André, se apaixonou, tirou férias, de 30 dias, e entendeu que às vezes dizer sim sempre para todos é dizer não para si mesma. Chega de não para si, ela queria dizer sim, porque ela merece o sim. Era um dia novo, uma vida nova e ela estava se sentindo bem.


















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