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Minha nada doce amarga vida

Foto do escritor: Patricia CarneiroPatricia Carneiro



Janaína descobriu o diabetes quando ainda era muito jovem, apenas 13 anos de idade. Nessa época pouco se sabia sobre essa doença. Muitos apontavam o dedo e diziam, "obvio que tem diabetes, viu como sempre comeu doce?", seus pais se recusaram a acreditar, eles acabavam de sair de um divorcio muito doloroso e tinham que estar juntos novamente pela filha, o diagnóstico parecia uma bomba na família. Os dois primeiros anos não foram tão ruins como Janaína imaginava, parecia que o pancreas dela se recusava a parar de trabalhar, ainda tinha insulina ali, inconsistente, algumas vezes insuficiente, mas tinha. Depois veio a tempestade, aos 15 anos quando achava que tudo estava bem e controlado foi internada com cetoacidose. Tudo desmoronou, tod batiam cabeça para entender como lidar com essa nova realida e junto chegava com toda a força a adolescência.


Sempre escondeu que tinha diabetes, uma vez aplicou insulina em publico e chamaram um segurança porque havia uma garota se drogando no meio da praça de alimentação do shopping, ela quase não acreditou quando um homem a abordou e pediu que ela saísse porque estava incomodando as pessoas ao seu redor. Depois disso resolveu que nunca ninguém saberia que ela tem diabetes. Carregava balas e açucar na sua bolsa, tentava manter em segredo algo que demandava atenção o tempo todo. Numa festa ela sentiu que estava com hipo, foi ao banheiro e encheu sua mão de açúcar e colocou tudo na boca de uma só vez e para se assegurar que nada aconteceria ficou esfregando o açucar na gengiva, porque tinha lido isso em algum lugar, não sabia onde, ela procurava saber o mínima possível sobre o diabetes. Janaína não percebeu que a porta do banheiro havia estado aberta o tempo todo e seu namorado a observava do lado de fora, "Janaína que é isso que você está fazendo? Que negocio branco é esse? Que você ficou esfregando? Você é doidona?"" Ali ela decidiu que daria muito trabalho para explicar para ele, aceitou sua fama e foi embora sem dizer uma palavra, ligou para seu pai que rapidamente a foi buscar e acabou com o namoro naquela noite mesmo.


Na faculdade conheceu Danilo, os dois faziam engenharia de produção e logo formaram uma dupla para fazer os trabalhos. Com o tempo foram se aproximando muito e com Danilo se sentiu mais confiante, ele era filho de medicos, já sabia muito sobre doenças e decidiu que não esconderia mais dele. ëu preciso te contar uma coisa muito séria e se você não quiser mais namorar comigo eu vou entender". Danilo ficou surpreso porque parecia que estava indo tudo bem. Com olhos marejados Janaína disse "eu tenho diabetes tipo 1 e preciso de insulina para viver". Danilo respirou aliviado, obvio que não era a melhor notícia do mundo, mas ele nunca deixaria de estar com ela porque ela tinha diabetes, ela não era o diabetes, isso era apenas uma caracteristica dela, e ele a amaria de qualquer maneira, com ou sem diabetes. "Janaína, você enlouqueceu? Não é o fim do mundo, eu nunca deixaria de namorar você por causa disso". Nessa hora Janaína respirou aliviada, as lágrimas que seguravam desceram com força total, como um rio represado que abre as comportas.


(continua...)



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