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Minha nada doce amarga vida parte2

Foto do escritor: Patricia CarneiroPatricia Carneiro



Era uma noite linda. O chalé que haviam reservado no alto da montanha parecia querer beijar as estrelas. Janaína e Danilo já estavam juntos há algum tempo; o próximo passo seria morarem juntos. Mas o momento nunca parecia certo. Ou estavam estudando demais, ou estavam começando um emprego novo, ou faltava dinheiro, ou faltava tempo, e os custos com o diabetes eram altíssimos. Quem fosse embarcar na vida da Janaína sabia que teria que incluir isso nas planilhas de gastos mensais do casal.

Por enquanto, eles eram apenas os dois, namorados, em um chalé no meio do nada, onde só se ouvia o barulho da noite e, ao longe, o som da cachoeira que nunca descansava. Danilo disse que precisava ir à recepção resolver um problema da estadia. Apesar de Janaína se oferecer para ir junto, ele disse que voltaria rápido. E cumpriu sua promessa. Nem 1 minuto depois, Danilo voltava ao chalé, mas não estava sozinho. Atrás dele estavam os pais de Janaína, seus irmãos e a família de Danilo também.

Em algum lugar, Janaína ouviu Elvis cantando:

"Wise men say

Only fools, only fools rush in

Oh, but I, but I, I can't help falling in love with you

Shall I stay?

Would it be, would it be a sin?

If I can't help falling in love with you."

Naquele momento, ela percebeu o que estava acontecendo. Danilo apoiou um joelho no chão e, com os olhos marejados, levantou a caixa de veludo vermelha com uma aliança dentro: "Sem você nada tem sentido, sem você me falta o ar, sem você a lua não ilumina, sem você as flores não nascem. Eu te amo hoje e sempre. Você aceita se casar comigo?".

Embora o chalé estivesse cheio das pessoas que mais importavam em sua vida, naquele momento eram apenas os dois. Janaína se jogou ao chão, beijou Danilo: "Claro, eu aceito todos os dias da minha vida. Te amo, te amo".

O casamento foi simples, somente com aqueles que faziam sentido. A lua de mel foi no mesmo chalé, agora sem a família, claro. Na noite do casamento, Janaína permitiu-se beber um pouco mais, aplicou a insulina que achava necessária e curtiu a noite. No meio da festa, sentiu-se tonta, nauseada, e chamou Danilo: "Estou tendo uma hipoglicemia, tenho certeza. Traga meu glicosímetro".

Nessa época, sua forma de aplicar insulina era com caneta, já havia evoluído muito desde a seringa, e a forma de medir era sempre na ponta do dedo, com seu fiel escudeiro que levava para todos os lugares e obviamente estava em sua bolsa no dia do seu próprio casamento. Danilo já sabia como agir, buscou o glicosímetro, um saquinho de jujubas e uma Coca-Cola, melhor prevenir.

Janaína ainda não aceitava totalmente. Foi até o banheiro para que os convidados não vissem. Danilo tentou convencê-la a medir ali mesmo na frente de todos. "Não, Danilo, você já viu em algum filme romântico a noiva se furando e o noivo ali em pé preocupado com um saco de jujubas? Não vou fazer isso na frente de ninguém, só você mesmo. Vem comigo".

Foram para o banheiro, trancaram a porta e ficaram ali, esperando a glicose subir.

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