Tem certeza que eu preciso de terapia?
- Patricia Carneiro
- 20 de set. de 2021
- 2 min de leitura
Cláudia nunca se imaginou fazendo terapia, dizia que isso era coisa de maluco, gente que falava sozinho, ou de pessoas que não controlam as emoções. "Eu sei controlar minhas ações, sei controlar minhas atitudes". Quando Cláudia estava triste comprava uma garrafa de vinha e dizia, aqui o meu psicólogo hoje. às vezes afogava suas mágoas numa caixa de chocolate, outras corria na esteira até as pernas falharem. Fazia muito de qualquer coisa que deixasse sua mente vazia. O negócio era não pensar, era empurrar para debaixo do tapete.
Cláudia trabalhava dia e noite para ser promovida, não ligava de abrir mão de seus fins de semana e noites, só queria mesmo a promoção, queria ser reconhecida, e sabia que seria, fazia tudo certinho, entregava tudo no prazo, não tinha tempo para bate papo nos corredores. Cláudia tinha um objetivo, ela tinha que ser promovida até o fim do ano. A vaga de vice presidente saiu, Cláudia estava pronta para aceitar, obvio que seria escolhida. Vestiu sua melhor roupa para o anúncio. Estava entre ela e a Teresa. Teresa era uma fanfarrona, vez ou outra perdia prazos, vez ou outra dizia que não poderia trabalhar sábado e domingo porque iria viajar com a família, já viu até Teresa dizer que precisava sair mais cedo pois acompanharia uma colega de trabalho num exame médico delicado. Óbvio que a vaga era de Cláudia.
Sentaram-se as duas de frente para a Presidente, que sorriu, agradeceu a presença e depois de um longo discurso disse que buscava uma pessoa que entendesse dela mesma, que se colocasse em primeiro lugar. Porque tal qual aquele velho exemplo do voo caindo, primeiro você coloca a máscara em você e depois na pessoa ao lado. E se você não é capaz de se colocar em primeiro lugar, uma hora sua saúde vai falhar, a física e a mental. Olhou com compaixão para Cláudia, segurou suas mãos, o que lhe causou um grande desconforto.
"Cláudia, você já pensou em fazer terapia?" Confusa, Cláudia não entendia o rumo daquela conversa, estava ali para se tornar vice presidente e não para receber indicação de psicoterapeuta. A presidente continuo olhando com empatia para Cláudia: "Tecnicamente você está mais que preparada para ser a vice presidente ou até mesmo a presidente desta empresa ou de qualquer empresa que você quiser. Emocionalmente? Não posso te oferecer a vaga. Qual foi a última vez que você disse não para mim?"
Cláudia já não entendia mais nada: "Eu nunca te disse não, por isso mereço essa vaga".
"Cláudia, você precisa primeiro se respeitar, respeitar seus limites. Entender que uma hora os seus infinitos 'sins' irão te trazer um colapso mental e físico. Sinto muito, essa vaga é da Teresa. Eu quero te propor uma terapia primeiro, depois, se isso ainda for o que você quiser, eu te darei sociedade na empresa".
Teresa pulou de alegria, agradeceu a presidente, se abaixou e abraçou Cláudia que se manteve imóvel com os braços abaixados. "Cláudia, imagina, sócia da empresa, você consegue! Procura a minha psicológa, ela se chama Patrícia, você vai amá-la e vai se descobrir. Eu não largo ela nunca. Estou muito feliz por você". Deu um novo abraço em Cláudia que atônita não moveu um músculo.
"Será que eu preciso de terapia?" Cláudia pensou....
Comments