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Desculpa, erramos.

Foto do escritor: Patricia CarneiroPatricia Carneiro

Depois da terapia Ana Paula chamou Pedro para conversarem. Fazia tempo que eles não conversavam de verdade, uma conversa aberta sem acusações e procurar culpados. Não sabia se conseguiria sair ilesa dessa conversa. Não sabe se Pedro a olharia com mais empatia, carinho e generosidade.

Ana Paula: Pedro, você pode sentar um pouco para conversarmos?

Pedro: Sobre o que é, Ana Paula? Se for sobre terapia você já sabe minha posição. Não adianta para nada e se a terapeuta não te ensinar a me enxergar, a ver o homem que você tem não vai adiantar nunca. Se estamos nessa m*rda toda é porque você procurou.

Ana Paula: Não, Pedro. Um casamento precisa de duas pessoas para dar certo e de 2 pessoas para dar errado. Se está dando errado a culpa é nossa. Se não dormimos mais juntos é porque nós dois abrimos mão disso em algum momento do relacionamento. Eu enxergo o homem que está ao meu lado. Só não sei se ainda o amo e se ainda o quero.

Pedro: Então, deixe-me ir. Eu vou procurar alguém que saiba o que quer da vida.

Ana Paula; Você é feliz, Pedro?

Pedro: Ser feliz é uma inconstante. Tem dias que sou, tem dias que não sou. Num mesmo dia posso ser feliz num momento e me sentir miserável em outro. Neste momento não estou feliz, na verdade em nenhum momento que estamos juntos ultimamente eu sou feliz.

Ana Paula: Não há nenhum momento de felicidade ao meu lado?

Pedro: Não, nunca sou feliz com você. Muitas vezes prefiro a companhia de amigos do que a sua, quer dizer, quase sempre prefiro estar com outras pessoas a estar com você.

Ana Paula: Sinto muito que se sinta assim. Talvez devessemos nos separar mesmo, quem sabe assim você conseguiria estar e ser mais feliz.

Pedro: É quem sabe.


O assunto morreu ali de novo e mais uma noite eles dormiram na mesma cama mas nem se olharam e nem se tocaram. Estava muito difícil avançar. Ana Paula sabia que Pedro havia sido o amor de sua vida até agora, mas talvez não fosse o amor da vida toda.


Na próxima consulta com Patrícia disse que estava se sentindo pior do que a primeira vez.

Ana Paula: Mas como eu posso estar pior fazendo terapia?

Patrícia: Estamos num processo de terapia, você tem muito pouco tempo de terapia para assumir que melhorou ou piorou. A verdade é que muitas vezes temos que descer até o fundo do poço para podermos pegar a água para bebermos. Se ficarmos só no alto do poço olhando e imaginando como aquela água nos refrescaria não chegaremos a lugar nenhum a não ser numa morte lenta por desidratação. Faz parte da cura o sofrimento.

Ana Paula: Mas eu não quero mais sofrer. Quero dormir e acordar com a resposta. Tipo num sonho, vem uma pessoa e me diz: "Ana Paula, se separe." ou "Ana Paula, lute pelo Pedro".

Patrícia: Seria bom ter a resposta num sonho, né? Mas não há respostas mágicas, elas tem que ser atravessadas, sentidas e pensadas. De que adianta alguém decidir por você?

Ana Paula: Se alguém toma a decisão e erra a culpa é daquela pessoa, e não minha.

Patrícia: Mas quem sofre a consequencia de uma decisão errada? Você ou a outra pessoa?


Ana Paula percebeu que não haveria uma saída mágica, que mesmo que ela procurasse culpados a verdade é que ela sofreria pelo que acontecesse, independente de quem tomasse a decisão. Ela não queria decepcionar Pedro, e queria para de se decepcionar com o fim tão iminente de uma aposta que eles haviam feito. Pegou o carro, colocou sua playlist para tocar aleatoriamente e a primeira música era "Sorry seems to be the hardest word" do Elton John. Na música a perguntava o que precisava fazer para o outro amá-lo e se importar com ele, o que fazer para o outro desejá-lo, para ser ouvido, o que ele deveria dizer quando tudo acabasse, desculpa parecia ser a palavra mais dificil de ser dita.

Percebeu que ela precisava se desculpar e precisava ouvir que ele sentia muito também. Marcou um jantar no restaurante que eles iam muito no começo do relacionamento. Seria sua última tentativa para fazê-lo amá-la e para fazê-la amá-lo tambem.







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